Por que voltamos, afinal?
Tenho a sensação de que os amores
requentados são como remendos. Elas não resistem ao tempo nem ao atrito. O que
na primeira vez era novo agora tem um gosto de repetido. E há detritos que vão
se acumulando a cada separação. Rancores, mágoas, coisas não ditas. Com o
tempo, esse entulho cerca a cama, se espalha pelos corredores, invade a sala e
a cozinha. A gente tropeça nele. Mesmo sem querer, passamos a procurar, nos
olhos e nos gestos do outro, os primeiros sinais de esgotamento, que uma hora
ou outra aparecem. Intuímos que é difícil evitar que um rio avance pelo caminho
que já foi aberto.
Por que voltamos, afinal?
Porque somos fracos, acho. Ao
acabar um namoro ou um casamento ficamos sozinhos, temos medo. Para a maioria
de nós é difícil construir relações duradouras. Quando uma coisa importante
acaba, temos dificuldade em recomeçar. Estamos tomados por quem nos mandou
embora. Ou estamos acostumados ao amor sem reservas do parceiro que mandamos
andar. Nada que tenha essa intensidade é fácil de repor. As pessoas que
aparecem não são capazes de preencher o vazio. É no meio dessa nuvem de dor e
incerteza, que pode durar um tempo enorme, que ressurge o ex. E nós o abraçamos
como salvação. Funciona para nos tirar do escuro, mas é um péssimo recomeço.
Texto completo - Via: Blog Epoca - Globo
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