Não precisa ser para sempre, mas precisa ser até o fim!
‘Para sempre’, em minha opinião, é nada mais nada menos que
um dia depois do outro. Ou seja, é construção. Em princípio, não existe. Mas
basta que façamos a mesma escolha sucessivamente e teremos construído o ‘para
sempre’.
O que quero dizer é que o ‘sempre’ não é magia nem tampouco
um tempo que pré-exista. Ele é conseqüência. Nada mais que conseqüência de uma
sucessão de dias, vividos minuto por minuto.
Quanto ao amor, tem gente que acredita que só é de verdade
se durar “até que a morte os separe”. Outras, como o grande Vinícius de Moraes
poetizou, apostam no “que seja eterno enquanto dure”.
Eu, neste caso, admiro a coragem de quem vai até o fim, de
quem se entrega inteiramente ao que sente, de quem se permite viver aquilo que
seu coração pede até que todas as chamas se apaguem. Mais do que isso: até que
as brasas esfriem e – depois de todas as tentativas – nada mais possa ser
resgatado do fogo que um dia ardeu.
Claro que não estou defendendo a constância indefinida de
atitudes desequilibradas, exageros desnecessários ou situações destrutivas. Mas
concordo plenamente com o que está escrito no comovente “Quase”, de Sarah
Westphal (muitas vezes atribuído a Luiz Fernando Veríssimo):
... “Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros
amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou
economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de
tentar” ...
Porque de corações partidos por causa de um amor vivido pela
metade as ruas estão cheias. Assim como de almas que perambulam feito pontos de
interrogação, a se questionar o que mais poderiam ter feito para que o outro
também estivesse presente, para que não fugisse tão furtivamente, tão
covardemente, tão sordidamente.
É por isso que insisto: muito mais do que nos preocuparmos
com o ‘para sempre’, precisamos começar a investir no ‘até o fim’, para que o
‘agora’ tenha mais significado, para que as intenções, as palavras, as atitudes
e todos os recomeços façam parte de uma história mais sólida, menos
prostituída, que realmente valha a pena.
Então, questione-se: o coração ainda acelera quando o outro
se aproxima? O peito ainda dói de saudade? O desejo ainda grita, perturbando o
silêncio da noite? Não chegou ao fim! Não acabou.
Sei que, em alguns casos, motivos de força maior impedem um
amor de ser vivido (e daí a separação pode ser sinal de maturidade), mas na
maioria das vezes o que afasta dois corações é muito mais intolerância, ilusões
ou auto defesas tolas do que algo que realmente justifique o lamentável
desfecho.
O outro não quer? Desistiu? Acovardou-se? Ok! Por mais
incoerente que pareça, é um direito dele. Esteja certo de que você fez o que
estava ao seu alcance e depois... bem, depois recolha-se e pondere: “pros
amores impossíveis, tempo”.
Tempo em que você terminará descobrindo que a vida tem seu jeito
misterioso de fazer o amor acontecer, mas que – no final das contas – feliz
mesmo é quem, apesar de tudo, tem coragem de ir até o fim!
Rosana Braga
www.rosanabraga.com.br
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