A verdade por trás de uma pessoa fria
Observar o que leva as pessoas a ser quem são é uma das
coisas mais curiosas da vida, e eu sempre gostei de matar meu tempo com isso.
Na maioria das vezes não encontro qualquer resposta: O chato é chato porque
gosta de sê-lo e ponto final. Algumas coisas simplesmente são, e não se pode
querer mudá-las ou mesmo compreendê-las.
Vez ou outra esse tipo de reflexão sem sentido me leva a
algum lugar, como, por exemplo, enxergar a autodefesa por detrás da arrogância
e a solidão por detrás da frieza. Eu não me canso de repetir: autossuficiência
é afrodisíaca. Nós gostamos de estar perto de pessoas que se bastam. Agem como
se não precisassem de nada nem ninguém, e isso é fascinante.
É preciso, entretanto, enxergar além: ninguém é tão
autossuficiente a ponto de não precisar de amor. O amor não é dispensável nem
pelo mais autêntico dos seres. Todos nós dependemos dele. Não importa se você
não gosta de abraços ou declarações: Existem muitas formas de amor, inclusive
as omissas, e você, decerto, precisa de alguma delas.
A verdade por detrás da frieza é uma necessidade descomunal
de amor. Uma necessidade tão grande que não consegue se revelar – fica
subentendida, por medo de represálias. Por medo de não saber como
manifestar-se. Por medo, na verdade, de perder de uma vez só, perde-se aos
pouquinhos. A frieza é a autodefesa da necessidade exagerada.
É difícil e até arriscado falar com tanto desprendimento dos
sentimentos alheios – ou da falta deles. Mas é fácil reparar: Pessoas frias não
sofrem da ausência de sentimentos. Elas apenas os suprimem, os guardam tão bem
guardados que não conseguem compartilhá-los. E, em meio à falta de habilidade
para sentir e amar, vem a solidão. Solidão que essas pessoas fazem questão de
degustar – preferem o inferno da abstinência de amor, a terem que livrar-se de
suas armaduras, de seus medos, de seus escudos, tamanha a dor que o desabrochar
dos sentimentos lhes causa.
Frieza não é falta e nem ausência. É excesso: de amor e de
intensidade. A frieza só espera um abraço espontâneo, um sentimento que
transborde pelos olhos e não precise de palavras, para que possa permanecer ali
– intacto – em uma redoma de monossílabos vestidos de medo, sem que se tenha
que pagar o preço com a solidão dos que pensam que não sabem amar. Mas sabem.
Acredite – Eles sabem.
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