Caixinha de Guardar o Tempo



Sofia não sabia muito sobre o tempo
e ainda menos sobre a falta que o tempo fazia.

Tinha todo o tempo do mundo pra correr, brincar
e ver tudo o que via,fazer o que queria,
bordando na infância sua colcha de alegria.

Entendia sim, e bastante,
sobre uma tal saudade,
que é do tempo, também uma fantasia.

Sabia que a saudade às vezes até doía,
era assim uma vontade, que no peito não cabia,
de ver alguém que não podia
ou de fazer algo que já não fazia.

Para dar conta de tanta saudade
que sentia das coisas que nem sabia,
a menina inventou então
uma caixinha de guardar o tempo,
o tempo que melhor vivia.

Sem querer descobriu a memória,
que podia pescar qualquer tempo
e plantar na lembrança tudo o que ela queria.

Na caixinha iam parar a folha da árvore que caia,
a gota da chuva que chovia,
o medo que ela escondia,
os bilhetes que ela escrevia,
os desenhos que ela fazia,
um tempo que ela sabia que não perdia,
a imensidão dos sentimentos que ela vivia
e a história da vida que ela tecia.

Sofia guardou o tempo, que passou também para ela.
Agora, depois dos filhos, netos e bisnetos,
muitas coisas ela já sabia e outras aprendia.

Na caixinha de guardar o tempo,
Sofia juntou poesia e fotografia
com as flores que sempre colhia,
com os sonhos que ela nunca adormecia.

E tudo o que sentia era a imensa alegria
de ter guardado com carinho
o melhor de cada dia!


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