As vezes é preciso ser Alice no País das Maravilhas



Às vezes gente se sente meio que Alice no país das maravilhas. A vida adulta nos colocam decisões a serem tomadas o tempo todo e nem sempre sabemos ao certo quem somos, o que queremos e o que precisamos fazer para que isso seja possível. Saber qual a melhor escolha para você naquele momento só se torna possível com autoconhecimento. Então, siga o seu coelho e entre no buraco.

Às vezes, mesmo com nossos 30 e poucos anos, a gente se sente meio que Alice no país das maravilhas, na versão de 2010 do diretor Tim Burton. Nesta edição, Alice está prestes a ficar noiva, quando sai correndo e encontra o coelho, o mesmo que está presente na história dela 13 anos atrás. Agora com 19 anos, Alice faz um mergulho em si e vivencia muitos desafios ao longo do filme. Interpretações psicológicas dessa segunda versão do filme, ocorrem freqüentemente por profissionais, porém eu não gostaria de me limitar apenas a fase da saída da adolescência, como me parece ser o foco.

Assim como nos contos, a vida real e adulta é um pouco cruel, nos colocam decisões a serem tomadas o tempo todo e nem sempre sabemos ao certo quem somos e o que queremos para que isso seja possível. Você termina o ensino médio e começa a escolher qual curso de graduação vai fazer, e depois qual especialização e/ou então qual trabalho, qual relacionamento, onde vai morar, onde vai investir o seu dinheiro, quantos filhos terá e por aí vai seguindo sem nunca parar.

E não é fácil decidir nada disso. Fazer escolhas é um ato de coragem, que só se sustenta com a capacidade de lidar com a frustração caso seja necessário diante de algo que não saia conforme o esperado, e sempre corremos esse risco. A não ser que você seja um adulto não crescido, cercado de pessoas que assumam o que seria sua responsabilidade independente das escolhas que faça. Caso você realmente não seja um desses, não há formula mágica quando se fala em tomar decisão, é preciso entrar no buraco do coelho da Alice, é preciso mergulhar em si mesmo e se conhecer, para ter condições de sustentar qualquer conseqüência que possa vir a ter. Nesse ponto a coragem já é necessária, porque não se sabe o que pode encontrar quando se permitir ficar somente com você. Nesse lugar pode haver seres muito estranhos, portanto trata-se de uma tarefa para poucos, porque você pode não ter a capacidade de lidar com a frustração de se reconhecer como a pessoa que é.

Mas quando você é um desses corajosos, você acaba indo, segue o coelho porque tem curiosidade de saber onde tudo vai dar e a principio não sabe o que fazer e nem o que é tudo aquilo que está vendo, mas não pode mais voltar, porque só se acha a saída depois de passar por todo o trajeto determinado para Alice nesse país das maravilhas, ou depois de provar que você é a mesma Alice de antes, apesar de parecer diferente e crescido. Então você segue assustado, porque não se reconhece, e se machuca, porque encontra com monstros. Aqueles monstros que te faz acreditar que não tem capacidade de derrotá-los, e que te fazem dizer “eu não consigo” e “eu não sei”. E no meio dessa loucura toda você descobre que é capaz de acabar com o medo desses seres assustadores se aproximando deles, lentamente e conscientemente, porque eles não passam de criação da sua mente. Basta perceber que fez isso, para querer fazer de novo e com aquilo que te faz tremer ainda mais, o Jaguadarte, e o faz.

Quando chega ao fim desse caminho você amadureceu, já não precisa mais da companhia de lagartas que te fazem pensar o tempo todo, já não é toda impulsividade da rainha vermelha e nem toda passividade da rainha branca, você é Alice com medo do que lhe espera, mas com confiança para enfrentar, um ser que se equilibra entre pensamentos e ação. Você é a espontaneidade, verdade e criatividade do Chapeleiro Maluco, visto muitas vezes como insanidade e é a intuição do cachorro.

Assim é o nosso processo de autoconhecimento, é entrar em contato com o que desconhecemos de nós mesmos, reconhecer o que temos de melhor e pior. Muitas de nossas capacidades são tão distantes de nossa consciência que duvidamos de nossas habilidades em lidar com situações diversas, o que na maioria das vezes nos faz optar por fugir e se esconder. Se conhecer é correr o risco de descobrir nossas falhas, ou seja, ficar cara a cara com o sentimento de fraqueza e é também muitas vezes se descobrir diferente dos outros, e é por esse motivo que requer coragem. E quem a tem e se permite passar por esse processo vivenciando desde suas características mais frágeis até as mais fortes, aprende a fazer escolhas e a sustentá-las, porque sabe dos seus limites e qual a melhor forma de respeitá-los. Portanto, ao sair desse buraco ou desse mergulho em si, está preparado para tomar decisões que lhes fazem bem e com tranqüilidade de que quaisquer desviadas dos seus planos são possíveis de serem organizadas, porque nesse momento tem consciência de que nenhuma frustração é maior que sua capacidade.

Não sabemos quanto tempo esse processo todo vai levar para ocorrer, mas quanto antes estiver disposto a começar, mais cedo terá essa resposta e saberá como realmente é e o que deverá fazer. Agora, caso você resolva não entrar no buraco, a única opção que lhe vai restar é deixar a vida resolver por você, e como dizem por ai, você não poderá nem assim responsabilizar alguém ou algo pelo que der errado na sua trajetória pela vida, pois não escolher já está sendo uma escolha sua.




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